Ciência Sólida: Uma Visão de alto Nível dos Adoçantes de Baixo Teor Calórico

Por Kris Sollid, RD
21 DE SETEMBRO DE 2021

Estamos de volta com outra publicação de Sound Science, ou  Ciência Sólida, nossa série de artigos que destaca as evidências de alta qualidade dos estudos científicos que podem ter passado despercebidos por você.

Nascemos com preferência pelo sabor doce. Embora esse desejo desapareça para algumas pessoas à medida que envelhecemos, até algum grau todos nós gostamos de doces. A doçura geralmente vem com calorias. Para fornecer um sabor doce sem calorias, foram desenvolvidos os adoçantes de baixa caloria (LCS na sigla em inglês) e, em alguns casos, como o aspartame, foram descobertos por acaso. Mas o conjunto de evidências sobre os adoçantes publicado na literatura revisada por pares não se acumulou por acaso. Décadas de pesquisa científica de alta qualidade forneceram respostas a muitas perguntas sobre os adoçantes. Neste artigo, daremos uma olhada em duas importantes áreas da pesquisa sobre os adoçantes – segurança e peso corporal, e onde a literatura científica se encontra atualmente.

Segurança

A primeira pergunta que vem à mente de muitas pessoas sobre os adoçantes é “eles são seguros”? A resposta curta é sim; os adoçantes são alguns dos ingredientes mais estudados na história da nossa cadeia de suprimento de alimentos. Para um ingrediente ou aditivo alimentar ser usado nos EUA, ele deve, primeiro, ser avaliado quanto à sua segurança pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. A FDA atualmente permite o uso de oito  tipos de adoçantes: seis são aprovados pela FDA – acessulfame de potássio, advantame,  aspartame, neotame, sacarina,  sucralose e dois o – extrato da fruta do monge e o extrato da folha da stevia, têm um status conhecido como geralmente reconhecido como Seguro (GRAS na sigla em inglês).

Além das autoridades de saúde dos EUA, agências regulatórias da Austrália e Nova Zelândia, Canadá, ChinaEuropa e Japão também monitoram e confirmam as avaliações de segurança dos adoçantes de forma independente. Mais recentemente, em 2017, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA na sigla em inglês) revisou e confirmou a segurança da Sucralose. Em 2013, a EFSA também reavaliou e confirmou a segurança do aspartame. Embora não seja uma agência reguladora, o Comitê Consultivo de Diretrizes Alimentares dos EUA (DGAC na sigla em inglês) de 2015 analisou o impacto do aspartame na saúde humana e concordou com a conclusão da EFSA de que o aspartame é seguro para consumo nos níveis atuais de ingestão.

Mas exatamente qual é a quantidade de adoçante considerada segura para consumo? Os adoçantes permitidos pela FDA passaram por extensas pesquisas para confirmar sua segurança, e a Ingestão Diária Aceitável ​​(IDA) foi estabelecida para cada um dos adoçantes, com exceção dos adoçantes da fruta do monge. De acordo com a FDA, há vários motivos pelos quais uma IDA pode não ser estabelecida, incluindo evidências de segurança em níveis de consumo bem acima da quantidade necessária para adoçar um alimento ou bebida.

A IDA representa a quantidade média determinada por meio de extensa pesquisa, que se espera que seja segura para uma pessoa consumir todos os dias durante sua vida. A IDA é estabelecida como sendo 100 vezes menor do que as quantidades mais elevadas de ingestão que demonstraram não ter efeitos adversos em estudos com animais ao longo da vida; isso ajuda a garantir que a ingestão humana seja segura.

A IDA pode ser um conceito difícil de entender, então aqui está um exemplo prático: a IDA para o aspartame é de 50 miligramas por quilograma (mg/kg) de peso corporal por dia. Se você pesa 68 kg, sua IDA por dia para o aspartame é cerca de 3.400 mg – ou o equivalente à quantidade aproximada de 19 latas de refrigerante diet ou mais de 85 sachês individuais de adoçante de mesa. A IDA não deve ser confundida com uma recomendação de ingestão diária; não é uma recomendação. Nem tão pouco é um limite de consumo. É simplesmente um nível de ingestão média diária ao longo da vida, estabelecido por rigorosas avaliações de segurança toxicológica que mostraram não ter efeitos adversos.

Peso Corporal

Com o crescente interesse nas últimas décadas em lidar com a questão da prevalência da obesidade, mais produtos estão se voltando para os adoçantes como uma forma de reduzir calorias, mantendo a doçura. Um estudo observacional de 2017 constatou que a porcentagem de americanos que relata consumir produtos que contêm adoçantes está aumentando desde 2000. No entanto, as estimativas de consumo dos adoçantes mostraram que a ingestão está muito abaixo das IDAs estabelecidas, tanto globalmente quanto nos EUA.

Os adoçantes são formulados para conferir doçura ao mesmo tempo em que reduz o número de calorias dos açúcares adicionados, o que pode ajudar no controle de peso. Perder ou manter o peso corporal é frequentemente citado na Pesquisa de Alimentos e Saúde anual do IFIC como o principal benefício percebido do consumo dos adoçantes. Os pesquisadores continuam a estudar a eficácia dos adoçantes no emagrecimento e na manutenção do peso. Alguns pesquisadores também estão estudando hipóteses sobre o papel potencial dos adoçantes no ganho de peso.

A visão predominante entre os cientistas da nutrição é que a perda de peso é melhor alcançada criando um déficit calórico – consumindo menos calorias do que as que gastamos. Essa pode ser uma proposta complicada, pois muitos fatores influenciam o comportamento, as decisões alimentares, a atividade física e a forma como nosso corpo responde ao que comemos e bebemos.

Os adoçantes podem ser úteis para reduzir as calorias que ingerimos. Os resultados dos testes controlados randomizados apoiam que a redução do consumo total de calorias, por meio do deslocamento das calorias dos açúcares adicionados usando os adoçantes, pode levar a uma modesta perda de peso. Com base em sua revisão sistemática de estudos observacionais e de intervenção, o Relatório Científico do DGAC 2020 concluiu que os adoçantes devem ser considerados uma opção para controlar o peso corporal. No entanto, isso não significa que perder peso seja tão simples quanto escolher consumir adoçantes ou produtos que os contenham. Resenhas de pesquisas com vários projetos de estudo ilustram que os déficits e os excedentes de calorias são importantes. Em outras palavras, adicionar ou subtrair alimentos, bebidas, nutrientes ou ingredientes da dieta, sem alterar o número total de calorias consumidas ou o nível de atividade física, torna menos provável a ocorrência de alteração no peso corporal.

Embora, a maior parte da atenção dada aos adoçantes tenda a se concentrar na perda de peso, foram sugeridas teorias sobre como os adoçantes poderiam promover o ganho de peso, embora os mecanismos fisiológicos para tais hipóteses não tenham sido comprovados. As opiniões sobre se os adoçantes contribuem ou não para o ganho de peso podem ser amplamente explicadas pelo tipo de evidência usada para apoiar um determinado ponto de vista. Por exemplo, uma revisão de 2018 da literatura científica relevante concluiu que as evidências dos estudos observacionais mostram uma associação entre a ingestão de adoçantes e maior peso corporal; no entanto, as evidências de ensaios clínicos randomizados demonstram que os adoçantes podem sustentar a perda de peso. Uma análise de citações de 2021 chegou a uma conclusão semelhante; as revisões da literatura que mostraram uma relação entre a ingestão de adoçantes e menor peso corporal baseiam-se principalmente em dados de ensaios clínicos randomizados, enquanto as revisões citando principalmente estudos observacionais mostram uma relação entre adoçantes e maior peso corporal.

Um potencial fator de confusão nas descobertas das pesquisas observacionais é que as pessoas que pesam mais podem buscar produtos contendo adoçantes com mais frequência, particularmente em bebidas, para reduzir a ingestão total de calorias no esforço para perder peso. Isso geralmente é conhecido como causalidade reversa. Em outras palavras, embora os estudos observacionais possam ser importantes para gerar hipóteses, eles não podem determinar se os adoçantes estão tornando as pessoas mais pesadas ou se as pessoas que pesam mais estão consumindo adoçantes de forma exagerada. Em contraste, os ensaios de intervenção que são projetados para testar causa e efeito, consistentemente falharam em demonstrar que os adoçantes causam ganho de peso.

Fatos Relevantes Sobre os Adoçantes

Os adoçantes são uns dos ingredientes mais extensivamente estudados em nossa cadeia de suprimento de alimentos, e as pesquisas continuam a examinar a conexão entre os adoçantes e a saúde humana. Décadas de investigação científica conduzidas por autoridades de saúde globais estabeleceram e confirmaram repetidamente a segurança dos adoçantes, e as evidências dos ensaios clínicos randomizados mostram que os adoçantes podem ser benéficos no controle de peso.

As pesquisas também deixam claro que os adoçantes não têm habilidades mágicas para queimar gordura ou calorias, nem aumentar os níveis de energia e nem nos tornar mais saudáveis. Os adoçantes são úteis – nem bons nem maus; portanto, eles não fazem produtos saudáveis ​​ou não saudáveis.

O detalhe dos adoçantes é este; consumir adoçantes não é necessário para uma boa saúde, mas é uma opção segura para pessoas que buscam reduzir calorias, carboidratos e açúcares adicionados sem sacrificar o sabor doce.

Procurando mais informações? Confira nosso “Tudo que você precisa saber” com artigos sobre aspartame, adoçantes da fruta do mongeadoçantes de stevia e sucralose para cobertura de temas além do peso corporal e segurança, incluindo a ingestão de adoçantes por crianças, pessoas com diabetes e gestantes, bem como, potenciais efeitos no apetite e no microbioma.

Se você é um profissional credenciado pela Comissão de Registro Dietético (CDR na sigla em inglês), pode receber educação profissional contínua (CPE na sigla em inglês) para a conclusão de webinars gravados pelo IFIC e atividades de autoestudo, que podem ser acessados aqui. (Válido apenas para os profissionais residentes e credenciados nos EUA)

Este artigo inclui contribuições de  Allison Webster, PhD, RD.