Por Food Insight
PUBLICADO – 8 DE JANEIRO DE 2020
No início de um novo ano, muitas vezes parece que para todo lugar que você olha, alguém está tentando começar uma nova dieta. Mas, se resolvermos mudar nossa alimentação para perder peso, melhorar nossa saúde em geral ou apenas “voltar ao ritmo normal” após as folgas do feriado, uma dieta rigorosa pode não ser o hábito mais saudável a se formar no início de 2020. De fato, a maioria das dietas radicais pode ter o resultado oposto ao que esperamos – o ganho de peso. Agora que estamos entrando numa nova década, vamos dar uma olhada como seria adotar uma abordagem de saúde sem dieta com modelos de cuidados com a saúde baseados em evidências para pessoas preocupadas com o seu peso, em vez de lutar por um peso irreal. Essa abordagem é frequentemente usada em conjunto com o modelo Health at Every Size®, bem como, outros modelos como alimentação intuitiva e a atenção plena. A ênfase principal dessas abordagens não relacionadas à dieta é mudar o foco da perda de peso para o bem-estar em geral.
O Que é Health at Every Size® ?
O Health at Every Size® (HAES®) (Saúde em Todos os Tamanhos) é uma marca registrada de um modelo que rejeita o uso do peso e do tamanho corporal como indicador da saúde em geral. Em vez disso, o HAES aborda a saúde de uma perspectiva sócio ecológica, enfatizando que a saúde é afetada por nossa genética, comportamentos pessoais, círculos familiares e sociais, ambientes físicos e por políticas públicas. Embora o peso possa ser afetado por esses diferentes fatores, não é o determinante exclusivo da saúde de uma pessoa. Frequentemente, doenças crônicas e estado de saúde não são coisas que podemos ver à primeira vista; consequentemente, a aparência de uma pessoa não conta toda a história de sua saúde. Assim, o HAES aborda diretamente o impacto negativo do estigma do peso e tira o foco do peso corporal no cuidado com nossa saúde em geral. Os cinco princípios da HAES são peso inclusivo, melhoria da saúde, cuidado respeitoso, alimentação para o bem-estar e movimento para melhorar a vida.
O que mais a abordagem da não-dieta implica?
A adoção da abordagem da não-dieta para a saúde nos incentiva a olhar além das características físicas para determinar o quadro geral da saúde de uma pessoa, defendendo a aceitação do corpo, a autocompaixão e a sintonia corporal. Além disso, a abordagem da não-dieta inclui uma estrutura conhecida como alimentação intuitiva, que possui dez princípios. Esses princípios nos incentivam a entrar em sintonia com os sinais de fome do nosso corpo, a respeitar nossos sentimentos sem usar os alimentos, a encontrar os exercícios de que gostamos e a encontrar satisfação nos alimentos, entre outros princípios. Por fim, a abordagem da não-dieta também incorpora técnicas de atenção plena, que podem ajudar a reduzir o autojulgamento e a aumentar a autoconsciência e a autocompaixão.
A abordagem da não-dieta contraria o que sabemos sobre peso corporal?
A doutrina por trás da abordagem da não-dieta pode ser difícil de aceitar, porque há um grande corpo de pesquisas que liga a elevada massa corporal a doenças crônicas como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e câncer. No entanto, evidências contrárias sugerem que um maior índice de massa corporal (IMC) não aumenta o risco de doença ou morte, exceto nos casos mais extremos. Isso também vale para valores de IMC extremamente baixos. À luz dessas evidências científicas, os defensores da abordagem da não-dieta argumentam que um simples número, como o peso corporal, não pode ser o único determinante do risco de uma doença. Pesquisas recentes avaliaram o papel do “condicionamento físico versus gordura”, mostrando que indivíduos “sem condicionamento” estão em maior risco de doença crônica e morte precoce, independentemente do IMC. Essas descobertas argumentam que os hábitos e o estilo de vida de uma pessoa são determinantes mais importantes da saúde do que o peso dessa pessoa.
Outra contradição ao pensamento predominante sobre perda de peso é a teoria do set-point. Essa é a ideia de que nosso corpo individualmente é geneticamente programado para funcionar de maneira ideal com um certo peso (set-point), que pode variar de 4,5 a 9 quilos. Para uma pessoa, esse ponto de ajuste genético pode estar bem no meio da faixa “normal” definida de IMC; mas para uma outra pessoa, pode estar na categoria “sobrepeso” ou “obeso”. De acordo com a teoria do set-point, os corpos de forma individual são programados geneticamente para funcionar melhor dentro de uma faixa de peso (set-point) – independentemente de como esses intervalos se comparam ao corpo de outras pessoas ou aos intervalos do gráfico do IMC.
O estigma do peso afeta a saúde em geral.
Quando nossa sociedade diz que um peso é bom e outro não, essa mensagem, também conhecida como estigma do peso, pode ter um impacto adverso na saúde física e mental de uma pessoa. O estigma do peso pode aparecer em qualquer lugar e, embora não seja frequentemente avaliado como uma variável de dados confusa (uma variável que poderia causar uma associação potencialmente falsa) em estudos de pesquisa, foi independentemente associado a um risco aumentado de doenças crônicas e mortalidade em geral. De fato, as pessoas com estrutura corporal maior têm menor probabilidade de confiar em profissionais de saúde e podem até evitar os cuidados de saúde por medo de discriminação. O estigma do peso também afeta desproporcionalmente grupos marginalizados e, fatores como estresse, renda e/ou acesso à assistência médica impactam ainda mais o risco de doenças crônicas. A aplicação dos princípios de saúde adotados pela abordagem da não-dieta pode ajudar a eliminar o estigma do peso e melhorar nossa saúde física e mental de forma geral.
A abordagem da não-dieta poderia funcionar para você?
Embora dietas de choque e programas de exercícios sejam muito atraentes no início do ano novo, filosofias como a abordagem da não-dieta oferecem uma abordagem mais suave à vida saudável e um antídoto aos efeitos nocivos do estigma do peso. Considerando nossa alimentação e dieta através dessa lente, abre-se a porta para uma alimentação intuitiva e atenta, a qual retira o foco da perda de peso e o move para o desenvolvimento de hábitos à longo prazo.
Esta publicação do blog inclui contribuições de Courtney Schupp, MPH, RD, nossa 2019 Sylvia Rowe Fellow e Alyssa Pike, RD.