Aflatoxinas na Cadeia de Abastecimento de Alimentos dos EUA

Por Food Insight
POSTADO – 12 DE AGOSTO DE 2020

Poucos de nós sabem que a contaminação por aflatoxinas tem sido apontada como responsável por 25% das perdas estimadas na cadeia do abastecimento de alimentos no mundo. No entanto, alguns de nós podem ver as aflatoxinas nas notícias de vez em quando sendo associadas a recalls de alimentos. Estas questões de credibilidade e segurança de alimentos são o motivo pelo qual as aflatoxinas estão no radar das organizações governamentais, como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e a  Autoridade Europeia para a Segurança de Alimentos.

O que são aflatoxinas?

As aflatoxinas fazem parte de um grupo maior de toxinas chamadas micotoxinas, que são metabólitos tóxicos produzidos por certos tipos de fungos e podem infectar as commodities agrícolas e tornar os alimentos não comestíveis. As aflatoxinas são produzidas principalmente a partir da espécie Aspergillus, geralmente em condições precárias de armazenamento ou em condições climáticas adversas. Aspergillus é uma espécie de fungo filamentoso encontrado no solo, em sementes e grãos e em plantas em decomposição. A contaminação ocorre quando a espécie Aspergillus se reproduz em condições favoráveis ​​(alta temperatura e umidade), invadindo a cultura. Existem quatro tipos principais de aflatoxinas: B1, B2, G1 e G2, que são nomeadas de acordo com os mecanismos de detecção (por exemplo, fluorescência azul ou verde sob luz UV). A aflatoxina B1 é a mais comum nos alimentos e é altamente tóxica com efeitos cancerígenos. Além dessas quatro, existe a aflatoxina M1, que é produzida como um subproduto da toxina B1 que sofre um processo enzimático no leite e em seus derivados. Agora que você sabe o que são aflatoxinas e como são produzidas, vamos analisar se elas podem ter impacto na forma como fazemos nossas listas de compras de supermercado.

Aflatoxinas em alimentos

Muitos agricultores e produtores de alimentos nos Estados Unidos enfrentam a contaminação por aflatoxina. Nas regiões sul e centro-sul dos Estados Unidos, as aflatoxinas têm sido um problema recorrente no milho, levando à perda de mais de US$20 milhões. Foram relatadas contaminações por aflatoxina em alimentos e em rações para animais, sendo encontradas em alimentos como milho, trigo, arroz, figos e amendoim, entre outros. Além disso, fatores como estresse hídrico (seca) e danos causados ​​por insetos também podem aumentar a ocorrência de bolores, um tipo de fungo microscópico. Para obter amostras de aflatoxinas, deve ser feita uma amostragem de forma adequada para que se obtenha um resultado representativo – o limite máximo para aflatoxinas é de 20 partes por bilhão (ppb). No entanto, uma das principais preocupações com a amostragem é a falta de acesso a esses métodos de detecção nas áreas rurais. Além da amostragem, no combate à aflatoxina, estratégias de controle como boas práticas agrícolas (GAPs na sigla em inglês), novas técnicas de processamento (ozônio, plasma frio) e aditivos alimentares (ácido cítrico) são utilizados para mitigar a contaminação pre e pós-colheita.

Toxicidade e efeitos da aflatoxina na saúde

Existem redes de segurança em toda a cadeia de alimentos para evitar a contaminação por aflatoxina, mas às vezes a exposição aumentada e de longo prazo pode ter efeitos graves para a saúde. Durante o envenenamento por aflatoxina (aflatoxicose) por ingestão, especificamente de B1, a toxina se liga às proteínas em nosso organismo e desenvolve um epóxido tóxico que interage com nosso DNA e proteínas. As exposições às aflotoxinas relacionadas com alimentos podem variar de aguda a crônica, com doenças que variam de leves a graves. O nível tóxico de aflatoxinas nos seres humanos é amplamente desconhecido de acordo com o FDA. Embora a duração dos sintomas seja mal descrita na literatura, de acordo com o FDA, casos leves incluem sintomas de erupção cutânea, náusea, dor de cabeça e com recuperação sem qualquer prejuízo à saúde. Entretanto, os casos mais graves incluem efeitos carcinogênicos (câncer de fígado e rim), dano hepático grave (cirrose), coagulação sanguínea comprometida e provável diminuição da imunidade. As pesquisas têm mostrado que há grupos de maior risco de envenenamento por aflatoxinas nos países em desenvolvimento, como os que estão abaixo do peso, desnutridos, imunocomprometidos (HIV/AIDS) ou em uma área geográfica onde não há água potável. Em comparação com os adultos, as crianças que fazem parte de um desses grupos apresentam maior risco de aflatoxicose. Curiosamente, não existe nenhum tratamento específico para o envenenamento por aflatoxina; em vez disso, o foco está nas estratégias de controle e prevenção antes que a infecção ocorra. 

Nos Estados Unidos versus no exterior

Embora o envenenamento por aflatoxina não seja uma grande preocupação nos Estados Unidos devido à vigilância e monitoramento em nosso sistema alimentar, esse problema ainda é relevante nos países onde ocorrem recalls e se perdem anualmente milhões de dólares em safras agrícolas. Nos EUA existem regulamentações e inspeções para evitar a contaminação da aflatoxina em produtos alimentícios. Surtos de aflatoxina também ocorreram em países em desenvolvimento como Quênia e República Unida da Tanzânia. Esses surtos levaram a Organização Mundial da Saúde e os Centros de Controle de Doenças a desenvolver grupos de trabalho para lidar com alimentos contaminados por aflatoxina.

Além de confiar nas regulamentações federais para manter nosso sistema alimentar seguro, evitar alimentos mofados potencialmente contaminados com aflatoxinas, é uma medida que os consumidores podem tomar para reduzir a exposição às aflatoxinas. Esperamos que essas informações sobre a segurança de alimentos relacionada à aflatoxina sejam úteis na próxima vez que você ouvir sobre um recall ou surto de aflatoxina no noticiário.