Sucralose e Saúde

Por Kris Sollid, R.D. | Fev 08 2016
Última atualização em 24 de abril de 2017

De vez em quando, lemos um novo estudo que desafia o que décadas de pesquisas demonstraram. Embora um estudo crie grandes manchetes, muitas vezes ficamos pensando: será que é confiável?

O último desafio vem sobre a segurança dos edulcorantes de baixa caloria, um dos ingredientes mais estudados em alimentos e bebidas. Autoridades independentes mundiais, da indústria e do governo conduziram e revisaram inúmeras pesquisas de grande porte. Eles chegaram à mesma conclusão: todos os edulcorantes de baixa caloria usados em nossos alimentos são seguros para o consumo.

Um dos edulcorantes de baixa caloria consumidos mais comuns é sucralose. Os pesquisadores realizaram mais de 100 estudos científicos sobre a segurança da sucralose nos últimos 20 anos. O European Union Scientific Committee on Food (SCF), a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, a Food Standards Australia / New Zealand (FSANZ), a Health Protection Branch of Health and Welfare Canada, a Food Agriculture Organization (FAO), A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Japan’s Ministry of Health and Welfare declararam a segurança da sucralose. No entanto, um estudo recente de Soffritti, et al. no Instituto Ramazzini questionou a segurança da sucralose.

Será que todas essas autoridades mundiais poderiam estar erradas? Se assim for, poderia um único estudo mostrar os erros de seus pareceres? Para descobrir, nós demos uma olhada neste novo estudo. Aqui está nossa breve avaliação:

  1. ESTÁ EM VOGA A CLÁSSIFA SÍNDROME DO ESTUDO ÚNICO.

Um único estudo não faz um consenso científico. Os reguladores mundiais não confiam em um único estudo, não replicado para informar suas posições, e nem você deve confiar. Em vez disso, para tomar decisões informadas são necessárias grandes organizações de pesquisa. Décadas de respeitas pesquisas não devem ser jogadas fora em favor do estudo do dia. A FDA tem feito sua lição de casa sobre a sucralose e diz: “Na determinação da segurança da sucralose, a FDA analisou dados de mais de 110 estudos em seres humanos e animais. Muitos dos estudos foram concebidos para identificar possíveis efeitos tóxicos, incluindo efeitos cancerígenos, reprodutivos e neurológicos. Nenhum desses efeitos foi encontrado, e a aprovação da FDA é baseada nos achados de que a sucralose é segura para o consumo humano.

  1. O DESENHO DO ESTUDO SOFFRITTI É UM PROBLEMA.

Vejamos alguns destaques do estudo. O desenho do estudo é inerentemente falho. Em vez de delinear uma hipótese e testar esta hipótese (fazer ciência), Soffritti et al. reuniram um grande número de animais, os alimentaram e, em seguida, tentaram encaixar uma conclusão para os dados.

Isso pode não parecer grande coisa. De fato, não é. Na verdade, essa questionável abordagem é o Pecado n° 1 dos nossos 7 Pecados Mortais da Ciência Pífia. Com este modelo, é fácil projetar o que o pesquisador espera encontrar nos dados, em vez de testar uma pergunta específica.

O nível da Ingestão Diária Aceitável (IDA) da sucralose (está aqui em nosso infográfico sobre o que isso significa) é fixado em 5 mg/kg do peso corporal nos EUA e em 15 mg/kg do peso corporal na Europa. Então, se um pesquisador planeja tirar algum tipo de conclusão sobre a segurança na dieta humana, ele iria querer usar esses níveis, certo? Soffritti usou quantidades de teste de 500, 2.000, 8.000 e 16.000 ppm. Isso se traduz em 500 mg/kg, 2.000 mg/kg, 8.000 mg/kg e 16.000 mg/kg. Isso em qualquer lugar é de 100 a 3.200 VEZES maior do que o nível de Ingestão Diária Aceitável (IDA) dos EUA.

Como essas descobertas estão em desacordo com o conjunto da literatura publicada sobre a segurança da sucralose e os métodos levantam essas bandeiras, consultamos a Dra. Berna Magnuson, PhD (Fellow da Academy of Toxicological Sciences and Health Science Consultants Inc, em Mississauga no Canadá) para sua opinião especializada. Ela explicou que “agora é bem aceito que a presença de infecção pulmonar crônica nos animais do Instituto Ramazzini e a incidência excessivamente alta de câncer da linfa e do sangue (linfomas e leucemias) encontrados em seus estudos são causados ​​por infecção, não pelos compostos que eles testaram (Cruzan, 2009; Gift et al., 2013). O EPA dos EUA declarou publicamente que eles não vão confiar em dados de linfomas e de leucemias dos estudos do Ramazzini Institute (US EPA 2012b). ”

O pecado científico final? Grande parte dos dados não incluiu uma comparação entre os diferentes grupos de tratamento, bem como dos grupos de controle, um passo crítico para ver se existe algum impacto provável.

Robyn Flipse, MS, MA, RDN, também revisou o estudo extensivamente. De acordo com ela, “este estudo levanta mais perguntas sobre o desenho da pesquisa do que o ingrediente que está sendo estudado. Acho que a maior contribuição é servir como um exemplo de má ciência. ”

  1. COLOQUE A INVESTIGAÇÃO E OS PESQUISADORES EM CONTEXTO

Como Trevor Butterworth articulou com habilidade durante o último temor sem fundamento sobre a sucralose desses pesquisadores:

O problema que paira sobre os achados de Splenda é aquele que paira sobre o Instituto Ramazzini em geral: Controle de qualidade. Não importa que substância o Instituto teste para o câncer, os resultados parecem sempre ser positivos, visto que outros laboratórios que testam as mesmas substâncias repetidamente não conseguem obter os mesmos achados. […] Tudo isto fez do Instituto Ramazzini uma espécie de piada na ciência europeia e americana. Mas, é claro, não há nada para rir quando você usa uma conferência de caridade sobre câncer infantil para promover um pânico internacional sobre câncer.

A FDA e a European Food Safety Authority (EFSA) saíram do trabalho anterior do Instituto Ramazzini, afirmando que as suas conclusões não são suportadas pelos dados. A Dra. Magnuson resumiu perfeitamente: “Há muitos outros problemas com este estudo que poderíamos discutir, como formulação da dieta, doses usadas, falta de resposta à dose, e assim por diante – mas o ponto crítico é que ele foi bem documentado em mostrar que os resultados dos estudos feitos por este laboratório não são válidos – especialmente quando se trata de linfoma e leucemia. ”

A MENSAGEM QUE FICA

“É particularmente desanimador quando grandes organizações de pesquisa são colocadas de lado quando os resultados de um estudo são liberados”, explicou a Dra. Megan Meyer, que estudou imunologia nutricional e trabalha com revisão científica para FoodInsight. “É especialmente problemático quando esse estudo está faltando com princípios científicos básicos que são essenciais para fazer uma conclusão.” Estamos felizes em dizer que a segurança e a eficácia da sucralose (e outros edulcorantes de baixa caloria nos alimentos) estão incrivelmente bem fundamentados. Se você estiver planejando reduzir suas calorias, você não deve hesitar em usá-los em sua dieta.

Atualização: Nós atualizamos este post em 14 de março de 2016, para adicionar os insights do especialista Robyn Flipse,

Cruzan G. 2009. Assessment of the cancer potential of methanol. Crit Rev Toxicol 39(4):347–363. Gift JS, Caldwell JC, Jinot J, Evans MV, Cote I, Vandenberg JJ. 2013. Scientific considerations for evaluating cancer bioassays conducted by the Ramazzini Institute. Environ Health Perspect. Nov-Dec;121(11-12):1253-63.

U.S. EPA (U.S. Environmental Protection Agency). 2012. Update on Ramazzini Institute Data in IRIS Assessments. Washington, DC: U.S. EPA.